sábado, 12 de junho de 2010

A SERAPILHEIRA ESGARÇADA


 

Barreiro, 13 de Junho de 2010

OLÁ, estou de volta e sinto-me desintoxicado. Que bom: nem uma linha sequer sobre o Pinto da Costa e a namorada que lhe atribuem. Os pasquins de lá, não ligam, é o que é. E nada sobre o Sócrates. Que óptimo. Os espanhóis não querem saber se o dito cujo é ou não primo do Pinóquio, deixam essa tosca encomenda aos ociosos e aos conspiradores de cá. Do meu ponto de vista, deveriam estar preocupados com a crise estampada em todos os jornais de cá e de lá, mas a avaliar pelas esplanadas, à noite sempre cheias, com o pessoal a «picotear» as tapas do costume, parece que nem por isso, apesar das manifestações contra o Zapatero.

As Comisiones Obreras bem se esforçaram, mas a coisa saiu fraca. Mais espontâneas, calorosas e sinceras, embora também fracas em participantes, foram as manifestações contra os actos terroristas e os crimes de guerra do inimputável estado de Israel. Foram assassinados espanhóis, mas o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Miguel Ángel Moratinos não se mostrava minimamente indignado. Estas coisas só são graves quando cometidas pelo eixo do mal, porque do eixo do bem, sendo os crimes totalmente democráticos e desinfectados, tudo está bem. É a vida, como diria o outro.

Também se deram manifestações contra a seita terrorista dos Bilderberg, enquanto decorria – na Espanha, claro – mais um dos seus sabates. As manifestações foram fraquitas, mas louvam-se as intenções. Muito produtivas terão sido certamente as reuniões destes fabricantes de crises, com as quais muito lucram. Aliás, é para dar lucro que as crises são provocadas, elas fazem parte do modo de produção em que assenta o Império onde o Sol nunca se põe.

Quando as grandes centrais de uniformização mental – na gíria, agências de informação – receberem ordens para dizer que a crise já passou, poderemos ver em números que os ricos estarão mais ricos e os pobres mais pobres na mesma proporção. Esta coisa dita de crise é a mais expedita forma de transferência da riqueza dos muitos para os poucos, mas isto não se diz nos meios de comunicação social, porque é feio, nem se ensina nas universidades, porque não convém. É por estas e por outras que nos impingem, como se fossem caviar, Medinas e correlativos para nos dizerem que temos é de dar um tiro na cabeça e fugir para Espanha.

O que nem a todos parece evidente é que, enquanto se santificar o mercado, a competitividade (?) e o flibusteirismo iremos de crise em crise até à crise final.

Não falo de Portugal. Portugal já não existe, não conta, é apenas uma desculpa, como o é a Grécia e a Irlanda: rasgões na serapilheira esgarçada, a que chamam União Europeia, e que ameaça desfazer-se como se fosse uma grande Jugoslávia.


 

Abdul Cadre

abdul.cadre@netc.pt