quinta-feira, 9 de setembro de 2021

 

LABOR DAY

 

  Quase todos os países que comemoram o dia do trabalhador fazem-no no Primeiro de Maio, mas nos USA e no Canadá, poe exemplo, a efeméride tem lugar na primeira Segunda Feira de Setembro...

Mas não é disto que venho falar, embora tenha sido isto que me inspirou.

Andou pelo Facebook há dias e corre na NET há anos uma daquelas frases que se atribuem a Einstein e que, com um pouco de atenção, concluiríamos da impossibilidade de ter sido proferida ou escrita pelo famoso cientista. A frase rezava assim: «O único sítio onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário». Ora, quem saiba que Einstein, dominando muito mal o inglês, escrevia invariavelmente em alemão, sua língua natal, constataria do sem sentido da frase, porque trabalho (Arbeit) vem antes de sucesso (Erfolg). Todavia, se de algum modo se quisesse expressar em inglês, ser-lhe-ia mais fácil recordar-se – lembremo-nos do Labor Day – da palavra «labor/laborer», que no dicionário vem antes de «success», do que de worker, para mais sendo este termo designativo mais propriamente de operário. Ponhamos aqui um parêntesis: as palavras labor/laborer são em inglês dos USA, que no padrão britânico se escreve labour/labourer. Isto para remeter os leitores para o nosso «aborto ortográfico».

Mas vamos ao Einstein e consideremos a priori da impossibilidade de ter escrito a coisa. Então, poderíamos aventar a hipótese de ter sido brasileiro ou português que lhe pôs na boca (ou na caneta) o que o homem não disse nem pensou.

Falar disto não serve de nada, eu sei. Estas frases vieram para correr e são eternas, são vírus e não há vacina. As frases falsamente atribuídas a Einstein são tantas, tantas que motivaram livros quer de denúncia quer de persistência na falsidade. Certamente que os que persistem na falsidade vendem mais.      

quarta-feira, 30 de junho de 2021

LEGENDÁRIO ESSENCIAL ROSACRUCIANO

 Este meu livro, de temática rosacruciana está de novo à disposição dos leitores

https://publish.bookmundo.pt/books/249698


Webshop do autor

https://publish.bookmundo.pt/abdulcadre

segunda-feira, 15 de março de 2021

 

ESTRELA NEGRA A PAIRAR

 

Lary Lachman, no seu recente livro com o título em epígrafe, entre muitos pressupostos envolvendo o «Pensamento Novo» – na literatura popularizada é dito novo pensamento –, a Teoria do Cos, o realismo fantástico e o milenarismo, recorre também a Jung e às suas teorias da sincronicidade e dos arquétipos, e aqui sou particularmente tocado, pois é a partir destes aportes Junguianos que tenho desenvolvido a ideia de que os grandes ditadores, com relevo sobretudo para os carismáticos, são invocações das massas populares.

Neste referido caldo, Lachman fala-nos da materialização das formas-pensamento que são conhecidas nos meios esotéricos como egrégoras, assunto este largamente explanado por Blavatsky e de leitura um pouco mais incisiva ainda em Dion Fortune, que nos falou como essas formas-pensamento podem ser usadas para ataques psíquicos (e mesmo físicos).

Estes elementais, a que a mentalista e viajante Alexandra David-Neel chama tulpas, podem apossar-se do seu próprio criador e, por maioria de razão, daquele que se quer usar.

Lachman, mais inclinado para a possibilidade de serem os ditadores, consciente ou inconscientemente, a criarem os seus tulpas, que deles logo se apoderam, a páginas tantas interroga-se assim:

«Será o próprio Trump um tulpa ou egrégora, gerado pela sua base de apoio?»

A minha resposta é que é essa a minha convicção, seja o Trump, seja o Estaline ou o Hitler., salvas as devidas proporções, evidentemente.

Há muito tempo que eu me debruço sobre esta capacidade psíquica e desenvolvi a ideia de os líderes – não confundir com capatazes e vulgares tiranetes –, para o bem e para o mal serem o resultado dos desejos dos seus seguidores e apoiantes. Os tiranetes limitam-se a tirar vantagem da cobardia e espírito gregário dos que se submetem; os líderes carismáticos, os grandes ditadores são fruto da invocação das massas, são tulpas poderosos construídos sobretudo pelo pior que há nas massas, e a energia mais eficaz para a edificação de um tulpa é a dos instintos primários dos seres humanos.

Pergunta-se, não haverá tulpas benevolentes criados pelas massas?

Em teoria, sim. Pensemos na egrégora Jesus, criada pelos crentes visando a protecção e o amparo de todos e de cada um, mas chegado a um certo nível energético tornar-se–á autónomo, mas não tão autónomo que não possa assimilar o ódio dos seus criadores, como aconteceu em épocas negras. Como os invocadores se dividem, a egrégora passa a ser multifacetada, plural, enfraquecendo. A parte mais animalesca das massas tem um poder de invocação maior do que a mais evoluída e a apatia da maioria facilita o trabalho nefasto das forças ctónicas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

FACTURAR

Nascemos de borla e toda a vida é feita a pagar as facturas do destino, seja o destino aquilo que for, determinado ou em construção. É assim com os indivíduos, com os grupos, com as nações, com a humanidade. É assim porque não pode ser assado, como diria o César Monteiro.

Não é preciso ser filósofo, psicólogo nem sociólogo para entender o modo de ser do nosso povo: está tudo no Pátio das Cantigas. Portugal é um pátio das cantigas e o Evaristo casa a filha com o marçano só para os outros não se ficarem a rir.

Os mais avisados, aqueles que não tendem a fazer «mééé», devem perceber que há sempre uma factura por pagar. Por exemplo, quem se ilude paga a factura da desilusão. Então, é de bem-avisado nunca nos iludirmos, e não escapamos à conta substituindo uma ilusão por outra.

As pessoas sensíveis estão muito tristes com a ascensão do carroceiro chegano, mas, se não fossem susceptíveis a iludirem-se, saberiam que atrás da orelha de cada português há um Salazar que sussurra. Isto não seria grave, se não ligassem ao sussurro. Haverá, porventura, quem não tenha ouvido no espaço público bolçar vómitos do género: «o que aqui faz falta é um Salazar»?

Quem nunca ouviu é porque é muito desatento; eu cheguei a ouvir: «isto só lá vai com dez salazares, que um já não chega».

Mas conto-lhes um segredo – que já não é segredo porque o tenho escrito muitas vezes – O Salazar nunca existiu e o chegano Desventureiro também não existe. Para entenderem melhor o que quero dizer, é aconselhável visitar (ou revisitar) a teoria dos arquétipos, de Carl Jung. Também ajudará perceber a psicologia de Gurdjieff.

Salazar é, pois, um arquétipo que um grupo de pessoas pode invocar, sintonizando-se com uma dada forma de ser. Os religiosos que não fiquem ofendidos, mas quando se retira dos Evangelhos que Jesus teria dito: quando vos reunirdes em meu nome eu estarei presente, é também disto que estamos a falar. Em termos metafísicos e teosóficos digamos nós que Jesus e Salazar são «elementais», isto é, habitantes da nossa mente. Os nossos sentimentos – sejam baixos ou elevados – são susceptíveis de materializações; quando em invocações colectivas podem ser observados, e os participantes desse ritual ficam despidos de individualidade, podendo ser conduzidos para actos animalescos, actuando como as abelhas que julgaram em perigo a sua colmeia.

Dizia Gurdjieff que só dez por cento dos humanos se encontram despertos, concluindo que os outros noventa por cento estariam adormecidos, mas aqui eu acrescento um ponto: há outros dez por cento que acordaram o demónio que há em si; não despertaram nem são susceptíveis de o ser. Estes, em termos religiosos, dir-se-ia que entregaram a alma ao demónio; são escravos do id freudiano, regem-se pelo princípio do prazer através dos mais baixos instintos, chegando a sentir prazer na dor que produzem e inclusive na que sofrem.

Estes dez por cento de filhos do pesadelo – e a percentagem será mais ou menos esta em toda a parte – tendem à actividade ruidosa e agitada das colmeias e dos formigueiros.

Se forem dez por cento, o partido dos cheganos tem ainda muito por onde crescer em termos eleitorais, basta que o seu arquétipo, o seu elemental lhes fale alto e bom som ao pior que os habite.

Havia um pastor que tinha dois cães. Um era uma fera terrível, o outro uma doçura. Não os podia juntar. Mas ele sabia que podia resolver o problema, bastava não alimentar um deles; se os juntasse, então, a fraqueza de um seria a vitória do outro.