segunda-feira, 25 de maio de 2020

O COVID É UM BICHO MALINO

Eu sei, eu sei que o Covid não é um bicho, é uma coisa assim-assim, que não é carne nem peixe. Seja lá o que for, pica no umbigo e desperta nas pessoas o que elas têm de pior e de melhor. Desperta a solidariedade, que é muita e desperta o egoísmo, que é imenso. Mas desperta também coisas bem mais doentias, como a raiva e o desprezo pelos outros.

Mas os maus sentimentos, no tempo do politicamente correcto, disfarçam-se o mais que se pode de saberes que se não têm e faz-se de conta que sim; de juízes de intenções, em que os outros têm só defeitos e nós apenas qualidades. Por isso, esta gente de carácter diminuído arranja bodes expiatórios para as suas frustrações e azedumes. Normalmente os que estão mais à mão são os políticos e as pessoas que têm de tomar decisões de protecção social.

Um destes azedos postadores de dizeres de falsas sapiências dizia por aqui: querem submeter-nos, obrigando-nos a usar máscaras, roubar-nos a liberdade, porque a máscara não serve para nada; são incompetentes e querem é dar dinheiro a ganhar aos laboratórios. Esta gente não se apercebe que quando fala assim é como se estivesse estendido no divã do psicanalista confessando as linhas que tecem o seu carácter. O seu mau carácter.

E há muita gente a berrar: então se as máscaras protegem, para que é o distanciamento social?

Eu fazia um boneco para lhes explicar, mas se calhar nem mesmo assim percebiam. Digam lá, têm algum método eficaz para partilhar connosco ou só se sentem bem dizendo mal. Tenham cuidado, não mordam a língua.

Eu sei de um método que acabava com a pandemia e exterminava o vírus sem medicamentos, sem vacinas e sem a tal imunidade de grupo. Congelava-se toda a humanidade – mas mesmo toda – durante um mês, tudo paradinho como se tivesse chegado o fim do mundo e pimba, matava-se o bicho, porque ele só vive se tiver quem o alimente e transporte.. Aqui tenho de dar razão aos maledicentes: os malandros dos políticos não me querem ouvir, são uns incompetentes. Quem não faz aquilo que nós imaginamos que é bom é porque é mau, incompetente e tudo o mais que se diga, porque é preciso é dizer coisas, mesmo que sejam muito estúpidas. E qualquer um de nós, desde que tenha telefone ou computador e ligação à NET é um sábio potencial com capacidades ilimitadas de chamar nomes feios aos outros, principalmente aos políticos de que não gostamos, porque os cá dos nossos são uns gajos porreiros.

Então – e isso é que importa – as máscaras servem de protecção ou não servem? Servem e não servem. Depende. Só há segurança absoluta no distanciamento social, não tocando no que quer que seja que tenha sido tocado por outros, o que é praticamente impossível. Usar máscara e coçar o nariz com os dedos infectados no manuseamento de objectos é tiro e queda. O mau uso da máscara pode até ser um factor prejudicial, mas a máscara é essencial em espaços fechados, e estes espaços devem ser higienizados e ventilados permanentemente. A máscara não visa a nossa protecção (só em parte), mas sim a protecção dos outros, não contaminarmos os outros. Mas o mais importante é não andarmos à molhada. Não é preciso fazer um boneco… ou é?

A TRETA DA SUBMISSÃO PELA MÁSCARA E IDIOTICES CONGÉNERES

Vou partir do princípio que alguns – e apenas alguns – daqueles que barafustam contra as máscaras anti contaminação são pessoas honestas e que fazem isto por se encontrarem assustados e frustrados com a presente situação pandémica. Mas não lhes desculpo serem macacos de imitação dos conspiranóicos e das milícias digitais que sabem bem o que fazem de mal.

Portanto, isto que aqui digo é só para alguns, para os honestos, porque os idiotas, doentes de conspiração e militantes digitais para um mundo pior merecem apenas o meu repúdio e o meu desprezo.

O argumento de que a máscara social é um factor de submissão inserido numa estratégia tenebrosa, se saído de um sentir autêntico é sintoma que precisa de atenção psiquiátrica. Mas, quando consultarem o psiquiatra, façam o favor de deixar em casa, ou deitarem fora, o telemóvel que usam para bolçar essas aleivosias. Haverá maior submissão, mais do que pagar impostos? Não paguem impostos. Haverá maior submissão do que respeitar os sinais de Trânsito? Haverá maior submissão do que ter de pagar multa por estacionar em cima do passeio? Não respeitem, não paguem. Haverá maior submissão do que respeitar as leis? Não respeitem e, já agora, façam o favor de ir para uma ilha deserta, se houver ilhas desertas sem rei nem roque.

Quem vive em sociedade adere a um contrato social de aplicação genérica que não se desenha à vontade do freguês. Esta adesão implica direitos e deveres. Os deveres, evidentemente, diminuem as liberdades e estas diminuições são compensadas pelos direitos, que são reformulações das liberdades e alicerces da segurança.

Esqueceram estas coisas básicas que terão aprendido no secundário? Bom, se nunca andaram na escola estão perdoados. Estou a ouvi-los perfeitamente, não resmunguem, é evidente que a escola é submissão, paciência, os malandros que a inventaram não querem que tenhamos a liberdade de nos submetermos à ignorância, e a ignorância é o nosso direito de sermos macacos. E a despropósito: já fez a sua tatuagem hoje? Ontem vi um filme de cowboys e estavam uns tipos com uns ferros em brasa a tatuar gado.

E se em vez de submissão víssemos a máscara social como um sinal de respeito pelo outro? Só não respeita o outro quem nasceu com o rei na barriga e olha o seu umbigo como o centro do mundo.