sábado, 24 de fevereiro de 2018

CONTROVÉRSIA

Muitos entendem que o mais popular dos poemas atribuídos a Bertolt Brecht (Augsburgo, 10 de Fevereiro de 1898 – Berlim, 14 de Agosto de 1956) não seja na realidade seu, mas escrito pelo pastor protestante alemão Martin Niemöller (1892-1984).

Parece que a responsabilidade de tal atribuição se deve apontar à actriz argentina de origem judaica e apaixonada de Brecht, Cipe Lincovsky (Buenos Aires 1933 - 2015), amiga da viúva de Bertolt Brecht, Helene Weigel (1900, Viena – 1971, Berlín), que recitava o poema com bastante frequência e garantia ser do famoso dramaturgo alemão, que o teria escrito em 1933, em Berlim, no seguimento do triunfo eleitoral de Hitler.

Se cotejarmos o que tem sido publicado como escrito por Niemöller e o atribuído a Brecht podemos constatar que se trata do mesmo poema, embora com grandes diferenças nos versos.

Segundo Harold Marcuse, neto do filósofo Herbert Marcuse, Niemöller apoiou a ascensão do nazismo, vindo depois a opor-se-lhe. Esta oposição valeu-lhe ser internado em Dachau, onde permaneceu entre 1941 e 1945.

O poema de Niemöller foi recitado pela primeira vez, integrado em um seu sermão, na Semana Santa de 1946, em Kaiserlautern (Alemania), que tinha por título «Que teria dito Jesus Cristo?», em referência à apatia do povo alemão perante a crueldade nazista.

Reproduzo o texto de Niemöller:

QUANDO ELES CHEGARAM

por

Martin Niemöller

“Quando os nazis chegaram

à procura dos comunistas, eu fiquei calado,

porque eu não era comunista.

Quando encarceraram os sociais-democratas,

também fiquei calado,

eu não era social-democrata.

Quando vieram à procura dos sindicalistas,

não protestei,

porque eu não era sindicalista.

Quando vieram buscar os judeus,

não soltei sequer uma palavra,

porque eu não era judeu.

Quando finalmente vieram buscar-me,

não havia mais ninguém para protestar.”

Quanto ao texto vulgarmente apresentado como de Brecht, aí vai, na versão que me parece mais plausível. Digo mais plausível porque as versões são inúmeras, quer quando atribuídas a Brecht quer quando atribuídas a Niemöller

INDIFERENÇA

“Primeiro levaram os judeus,

mas não me importou, porque eu não era judeu;

Depois, prenderam os comunistas,

mas como eu não era comunista, tampouco me importou;

Pouco depois, detiveram os operários,

mas eu, que não era operário, não me importei;

Logo de seguida detiveram os estudantes,

mas como eu não era estudante, também não me importei;

Por fim, prenderam os padres,

mas eu, que nem sequer era religioso, não me importei;

Agora que me prendem a mim, já é muito tarde.”

Como dissemos atrás, as versões deste poema são inúmeras. Quanto à autoria, é muita a controvérsia, mas inclino-me para Niemöller, pois só se conhece a versão atribuída a Brecht depois do seu regresso à Alemanha, vindo de Nova Iorque, isto é, depois de 1949. O que diz Cipe Lincovsky faz pouco sentido e falar de 1933 é falar do ano em que ela própria nasceu.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

COGITA TUTE

Vendas Novas, 4 FEV 2018

Quando alguém, muito professoralmente, diz a outro: pensa pela tua cabeça, está, sem dar por tal, a dizer a esse outro para pensar do mesmo modo que ele, porque a sentença contém um pressuposto subtil, que a cabeça pensa, coisa insusceptível de prova e, por conseguinte, é do domínio da crença.

O aviso (ou sugestão) menos incorrecto seria «pensa por ti» ou, de forma mais vaidosa, cogita tute, porque o latim dá sempre um toque tipo anel de brasão, mesmo que se viva em república.

criacionista não explica, e um darwinista muito menos, por que os machos têm mamilos, excrescências completamente inúteis. Dirão coisas, mas é como se não dissessem, porque qualquer pensamento, qualquer entendimento condicionado por um modelo fica sempre limitado pelos seus parâmetros. Habitualmente, tentarão encaixar os factos no modelo em que acreditam, mesmo que não caibam.

Michael Shermer, em um dos seus escritos – ele que é um neodarwinista – avisou-nos sabiamente que às más perguntas sucedem sempre más respostas. Segundo ele, a pergunta que se deve fazer é por que as mulheres têm mamilos, sendo a resposta evidente e inegável é que as fêmeas de mamífero têm mamilos para poderem alimentar as crias.

Aquelas excrescências nos machos devem-se ao facto de o molde arquitectónico para cada espécie ser apenas um; a natureza não perde tempo com dois, quando resolve o problema com um. Azar dos machos, que ficam com as marcas do molde.

Podemos enquadrar tudo isto na ideia de que o princípio básico da vida é feminino.