domingo, 31 de março de 2019

A SÍNDROMA DA GALINHA DOS OVOS DE OIRO

Preparar exércitos de obreiros para a desocupação e o desemprego, sem sequer lhes poder entregar a mais pequena semente de futuro é a tarefa ingrata do professor, nos dias que correm. O professor não pode mais dizer àqueles que vão herdar o mundo que se anuncia, de desocupados, para estudarem com vista a um emprego.

Quando falo em semente do futuro, nada de equívocos, porque a verdadeira semente do futuro é a alegria, não a esperança, como tantos querem crer e fazer outros acreditar. Não é honesto querer colher o que não se plantou, ou plantar cardos e querer colher rosas.

Esperar sentado pela orquestra que nos há-de encher de júbilo é plantar o tédio e nada mais. Não há músicos, foram todos despedidos.

Muita esperança se tem depositado no modo de produção do ensino, esperança, aliás, cultivada de pé, e não na espreguiçadeira, mas nem sequer podemos exclamar, para nos compensarmos: ao menos produzimos gente esclarecida e a desocupação é apenas provisória, aumentem-se as «competências» – ai o jargão enganador – e tudo será melhor…

Ora, nem os desocupados são gente esclarecida – o medo não deixa e os professores não podem nem sabem – nem a desocupação é provisória. Em breve estaremos na crista da onda do grande paradoxo do sistema. O paradoxo é que os senhores que delinearam as regras do jogo, que consistia em pagar o mínimo ao trabalho para que o capital crescesse ilimitadamente – regra ainda em vigor – assustam-se agora (e com razão) com a síndroma da galinha dos ovos de oiro.

Pensou-se resolver o problema pela transferência massiva da riqueza geral para os cofres do gripo restrito dos que usucapiram o mundo, através do truque chamado de austeridade, que se segue aos grandes momentos de transferência, que são as crises, mas a coisa parece que vai dar para o torto, porque a galinha tem gosma e não põe ovos suficientes.

Para que a galinha não morra e os ovos não acabem, virá aí um tempo em que os donos do jogo vão pagar para que o consumo não se extinga e as montras da abastança não sejam vandalizadas.

Dentro de 25 anos, 90% dos humanos que vivem nesta Europa que vai de S. Francisco a Vladivostoque não terão qualquer emprego. Não serão propriamente desempregados, porque nunca perderam o emprego, estão fora da produção de nascença, mas não necessariamente do consumo. Se tudo correr bem, poderão ocupar-se com a vida a tempo inteiro; se correr mal, não há que preocupar-nos, haverá ainda o recurso às cavernas.