domingo, 16 de setembro de 2018

MUITA ALDRABICE, POUCA REFLEXÃO E AUSÊNCIA DE ESPÍIRITO CRÍTICO.

Convenhamos que as pechas da epígrafe não nasceram com o Facebook, este apenas torna isso tudo muito mais comum e difundido, não só pelas características da cibernética, mas porque a distância, o não se dizer olhos nos olhos nos dá a sensação de poder e de irresponsabilidade.

Todos somos mentirosos por natureza, crentes por condicionamento e pequenos ditadores por costume e vocação.

Não é forçoso que assim sejamos sempre e para sempre, é uma questão de opções e de vontade. Desenvolver o espírito crítico é certamente um bom caminho para desejarmos cultivar a verdade. Quando andamos por aqui a partilhar calúnias, mentiras e tretas é evidente que não vamos por este caminho de que falo.

As tretas que partilhamos, fazemo-lo as mais das vezes por darmos crédito ao que não devíamos ou por uma irresistível vontade de acreditar, e a vontade de acreditar é um enorme obstáculo à vontade de saber. Não fazer qualquer esforço para confirmar ou infirmar a veracidade do que nos chega, partilhando sem mais fum funs nem gaitinhas é, no mínimo, falta de respeito pelos outros, que afinal até chamamos amigos. Seremos todos, afinal, amigos de Peniche?

A maior parte do que se partilha na NET como se fora informação não é informação, é o que está na moda, Fake News. E as fakenews são de uma perversidade enorme, correspondem ao que o António Aleixo dizia numa sua célebre quadra:

«Para a mentira ser segura

e atingir profundidade

tem de trazer à mistura

qualquer coisa de verdade.»

É por esta qualquer coisa que alguns «partilheiros» se desculpam, quando apanhados em falta, dizendo: bem, pode ser mentira, mas o conteúdo é muito bonito, muito assertivo. Esta lógica, levado ao extremo, levar-nos-ia a beber chá num penico roto e a dizer aos outros: se não gosta, não beba.

A vontade de acreditar e o culto da mentira estão por detrás de um negócio muito lucrativo. Lembram-se daquele jovem – búlgaro, se bem me lembro – que inventou a história de que o Papa apoiava o Trump? Pois, em pouco mais de 15 dias ganhou o equivalente a 10 salários mínimos em Portugal. É disto que vivem sites como o ZAP, o semprequestione e uma dúzia mais do mesmo jaez. Podia perguntar-se: então por que é que escrevem mentiras, se dava o mesmo trabalho escreverem verdades?

A resposta é muito simples: as verdades não são excitantes e não são lucrativas porque não são partilhadas, ou são-no apenas residualmente. A publicarem verdades, os internautas desses sites não ganhavam sequer para os manter a eles e aos sites. É na partilha que está o ganho e todos sabemos quão bom é ganhar pilim sem fazer força.