domingo, 11 de julho de 2010

A GOLDEN SHARE E A GOLDEN CHAIR

Barreiro, 11 de Julho de 2010


 

O TROCADILHO DO TÍTULO foi-nos sugerido pelo cartoon de Gonçalo Viana, na revista Visão de 8 do corrente, onde aparece o patrão do Espírito Santo – o tal que afirma que o seu grupo há 140 anos que se dá bem com todos os governos (!) – sentado numa cadeira doirada (golden chair, em inglês) com os pés colocados à americana numa cadeirinha vermelha decorada com ícones da PT e da República. A cadeira doirada é bem um trono e é de rei a postura do grande senhor, de ceptro na mão.

Ele manda como monarca; os governos republicanos, institucionalmente democratas ou de "democracia orgânica", obedecem, porque isto já se sabe que manda quem pode e obedece quem deve.

Explicar o que é uma golden share – acções com direitos e privilégios especiais – parece-me não ser necessário, tão cheios temos os ouvidos com o bicho. O que me parece é que o uso desta arma, no caso concreto da PT, tem algumas contradições e enferma de demagogia barata, com apelo a imagens subliminares de aljubarrotas de fisga.

Um governo que se propõe privatizar os CTT sem se reservar qualquer golden share e nos fala em sectores estratégicos da economia, ou não sabe o que diz nem o que faz ou nos toma a todos por tolos. Depois, por que é que a PT é estratégica e as outras operadoras de telecomunicações não o são?

Aliás, o problema actual da superprotegida e eis monopolista Telecom, empresa privada de capitais maioritariamente estrangeiros, existe porque o patrão da Sonae, empresa de capitais maioritariamente portugueses, foi rasteirado pelo primeiro governo do engenheiro Sócrates.

Nestas coisas, e principalmente na escolha de aliados e colaboradores, este nosso engenheiro nunca acerta. Veja-se como apoiou, à revelia de sectores importantes do seu partido, a recandidatura do inefável Barroso para chefe dos comissários políticos da sociedade franco-germânica a que se costuma chamar União Europeia. Era preciso um português lá naquele assento etéreo, dizia-se. O tal português que nos aparece agora a dizer que está contentíssimo com a condenação de Portugal numa coisa qualquer a que chamam tribunal.

Pois é: apoiou Soares em vez de Alegre, Vital Moreira em vez de Ana Gomes, aquela rapaziada que a gente sabe em vez de gente crescida e bem-apessoada...

É a vida.


 

ABDUL CADRE