quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

DAS IDEOLOGIAS DOS FARSANTES

Histon, 3 JAN 2019

Pelo simples facto de sermos humanos e vivermos em sociedade, todos aqueles que não são mentecaptos têm ideologia. Há, porém, os que dizem que não têm ideologia. Mentem. O que eles não têm, pelo que dizem, é a ideologia daqueles que eles odeiam. Têm ideologias religiosas, sociais e políticas. E os que mais gritam e mais odeiam têm a pior das ideologias, que é a ideologia excludente de todas as outras. Foi assim com a Inquisição, é assim com Bolsonaro e as suas milícias evangélicas. Será assim um pouco por todo o mundo se as pessoas de bem não reagirem. A extrema direita, que se estriba nos instintos primários das massas ignaras e ululantes, está em ascensão. É preciso chamar os bois pelos nomes. O IV Reich não é inevitável, mas é muito provável. Há demasiados bolsonaros no mundo. A extrema direita é na sociedade o que o cancro é no corpo humano: Thanatos.

ENTRE VIVOS E MORTOS

Histon, 3 JAN 2019

Há pessoas tão vaidosas, tão autoconvencidas, tão cheias de si que nos jogam na cara a todo o momento aquela frasezinha bacoca do «eu cá penso pela minha cabeça». Ora, admitindo que as cabeças pensam – e não creio em tal – temos que presumir que o falante está equivocado, mente ou é autista, porque só autista pensa pela própria cabeça, ou lá o que seja que serve para pensar…

As pessoas que verdadeiramente pensam, que são poucas, e nem sequer é muito importante que o façam, fazem-no com o máximo de cabeças que possam, porque não são tolas.

Infelizmente – ou felizmente, vá-se lá saber – a maioria não pensa, ecoa, mas dado que não dá que assim seja, fala como se tivesse acabado de inventar a roda. É assim que os quase mortos se jugam quase vivos, enquanto os vivos encolhem os ombros e fazem ouvidos de mercador.

Faz tanta falta quem nos possa ensinar a não pensar, para que possamos, com um pouco de silêncio, ser pensados!

Mas como? Se na escola os professores perguntam aos meninos: o que é que o menino pensa? E a cabeça do menino começa a crescer, cresce tanto que o menino fica incapaz de perguntar, torna-se adulto, adultera-se, tem a cabeça cheia de dizeres prontos a debitar.

O menino morreu. Da sua boca saem mortos-vivos à procura de jazigo.

DAS BOAS MANEIRAS

Histon, 3 JAN 2019

O instinto de sobrevivência é, nos seres vivos, algo que poderíamos comparar com a inércia dos graves. Passe a caricatura, a inércia é isto: o que se move não quer parar e o que está parado não se quer mover. Assim, do mesmo jeito, o que está vivo não quer morrer e o que está morto, morto está.

Pois bem: nos humanos, o instinto de sobrevivência gera a necessidade da manutenção da vida e, consequentemente, o medo dos obstáculos à sua satisfação, seja advindos da natureza, seja do confronto com outros viventes. Isto tem sido resolvido de duas formas: agride-se ou foge-se; agride-se aquele que tem o que seria melhor sermos nós ater, agride-se a natureza para lhe extrair o sustento. Foge-se se os obstáculos são maiores do que a nossa coragem, se aquele que queremos submeter ou roubar é mais forte do que parecia. Acobardamo-nos, tornando-nos vítimas, ou esperamos melhor ocasião.

Esta é a condição primárias, atávica, mas o homem civilizado é ainda assim, só que polidamente quanto baste, com boas maneiras, sempre que possível.