sábado, 1 de janeiro de 2011

DESSACRALIZAÇÕES

Vendas Novas, 02 de Janeiro de 2011

quem pense – julgue que erradamente – que o homem deste tempo que passa e a sua contra-civilização são materialistas, o que pressupõe que materialismo seja o contrário de espiritualismo, mas pode bem ser que estes dois conceitos não sejam assim tão antinómicos como se acredita. Quem sabe se não se trata apenas de ângulos visão a merecerem que se pergunte: que tem de mal a matéria? Que há de bom no espírito que a ela não convenha? Não será o espírito a essência da matéria e esta a cristalização daquele?

Bom, mas ao que queríamos chegar é que ao homem actual talvez fosse mais acertado chamar de desmaterialista, ou vê-lo como um rei Midas do avesso que transforma em lixo tudo aquilo em que toca...

Este homem é um anjo terrível, um anjo de destruição, mas nada nos assegura que haja um outro melhor do que ele. Entendido assim, podemos dizer que, muito à sua maneira, é sagrado, por mais que o vejamos enjeitar qualquer noção de sagrado e rir-se de tudo o que lhe cheire a mistério, educado que tem vindo a ser para o cientismo das explicações úteis. É por isto que para ele só é digno de atenção o que seja útil, o que renda e o que dê prazer. Se alguma coisa o consome anímica e intelectualmente é a febre do Ter. O desdém com que olha qualquer apelo do Ser é a prova provada da sua missão angelical para a hora que passa.

Para esta contra-civilização que a tantos incomoda e muito poucos ousam rejeitar, podíamos encontrar uma consigna: consome, cala e mantém-te saciado que nem bichinho doméstico. E apontar-lhe até uma divindade regente: a deusa Kali, do panteão hindu.Kali

De qualquer forma, é mais do que legítimo o receio de que esta nossa civilização (?) se afogue no próprio lixo que produz.

Lixo material, por um lado, mas sobretudo lixo mental e moral, porque o mau cheiro do primeiro não deixa disposição para outra coisa...

ABDUL CADRE

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