segunda-feira, 2 de maio de 2011

DE MASSAMÁ, COM S. BENTO CADA VEZ MAIS LONGE

Vendas Novas, 18 de Abril de 2011
            NO SEU JEITO hiper-realista menor de olhar para as coisas e ver o seu contrário, sem nunca perceber que em política o que parece é, Felícia Cabrita fez-nos saber, pelo seu romance cor-de-rosa a que chama biografia, que Passos Coelho é um “homem invulgar” a merecer bem a alcunha de Obama de Massamá. Ora, seria realmente invulgar se o verdadeiro Obama gostasse que lhe chamassem o Passos Coelho de Chicago.
Os homens invulgares sabem rodear-se de gente alta e espadaúda em termos intelectuais, está bem de ver e não de equipas «porreirinhas» para jogar à bisca lambida. Eu sei que o baronato do partido não se quer comprometer com desastres financeiros e deselegâncias políticas, mas quando a gente olha para os cabeças de listas laranjas, se tirarmos o Amorim e o Viegas, aquilo é de uma tristeza confrangedora; os ditos cujos são cerejas de enfeitar bolo ruim, todavia sem que se exclua a inexorabilidade do Princípio de Peter. No caso do homem do «directo ao assunto sem cê», suspeito que o principal critério da escolha «a abertura à sociedade civil» é conversa da treta terá sido, palpita-me, o seu ódio irredutível ao Sócrates. Curioso: ele que sempre perorou contra o Engenheiro, chamando-lhe mentiroso programa sim, programa sim, não se sabe como se estará a dar com a ultrapassagem efectuada por Passos Coelho que, em menos de um ano, já deu o dito por não dito mais vezes do que o Sócrates em seis anos.
Mas o mais interessante de se constatar e de saber é que a invulgaridade do biografado (?) da Felícia torna o nosso país, não invulgar, mas único. Partindo para eleições de favas contadas, à beira da maioria absoluta, à medida que foi abrindo a boca sem entrar mosca, foi descendo nas sondagens; tanto que está hoje em empate técnico com o grande inimigo. Em nenhum outro país do mundo isto seria possível: um governo de flagrante inépcia a enfrentar a crise internacional, que tem ido aos bolsos de quem não pode fugir de forma nunca vista, com um primeiro-ministro constantemente vilipendiado nos meios de comunicação social e com o sindicalismo partidário de juízes e procuradores a ajudar à festa, consegue subir nas sondagens e, por incrível que pudesse parecer, encaminha-se para uma previsível vitória eleitoral.
Ó Felícia, trata mas é de refazer o romance, biografia ou lá que é essa coisa que escreveste!
Pois. E temos aquele grande feito (que é mais um desfeito), isto é, desfez-se o mito da independência etérea dos que navegam acima dos vulgares mortais. Refiro-me a Fernando Nobre, que suspeito esteja possuído pelo demónio do bem. Lamento que tenha lançado às urtigas o prestígio granjeado com a sua AMI. Percebe-se agora claramente como a vaidade destrói as pessoas. Ai! E até me arrepiei quando o ouvi dizer à Fátima Campos Ferreira que tem uma missão a cumprir. Que perigo, termos uma missão a cumprir e não sermos o Cristo, por mais que nos queiramos santos. É que missão até o Pol Pot tinha, para mal dos pecados dos cambojanos.
De qualquer forma, é preciso muito cuidado, porque os Cristos acabam crucificados. Os outros, não. Os outros crucificam os desprevenidos e enganam os que têm a necessidade imperiosa de ser enganados. 

                                                                                       ABDUL CADRE     

Sem comentários:

Enviar um comentário