segunda-feira, 18 de junho de 2012

DESENVOLVIMENTO DESTRUTIVO

Vendas Novas, 19 de Junho de 2012

AS ELEIÇÕES na Grécia deram a vitória ao principal responsável dos buracos, cavernas e alçapões das contas helénicas. É a chamada sabedoria popular.

Outra sabedoria, igualmente popular, foi a dos franceses, mas dê lá por onde der, fale-se da Grécia ou fale-se da França, nada altera o percurso do comboio destinado a descarrilar.

Os resultados helénicos podem ser os menos maus para os gregos, mas talvez não sejam os melhores para a Europa e serão certamente os piores para Portugal, contrariamente ao que dizem os opinadores encartados; adiam o problema das expulsões – nossa e deles – mas tais expulsões serão inevitáveis.

Todas as conversas a respeito do vota ou não vota, cumpre ou não cumpre são ótimas para faladuras dos referidos opinadores encartados que nunca falam do essencial, apenas se entretêm com o acessório e com a retransmissão dos recados de que os encarregam. Se não cumprissem o dever de que estão incumbidos, depressam saíam dos cabides permanentes que têm nas pantalhas desinformativas da televisão que temos.

O essencial é isto: os povos estão divididos em estados, pátrias e correlativos e o capital – apátrida por conveniência e amoral por natureza – não tem bandeira nem poiso certo; pertence a meia-dúzia de imperadores sem rosto e sem alma que têm pelos políticos o desprezo que quem manda sempre tem por aqueles que obedecem. E estes que obedecem fazem-no com bom proveito, por bastante mais que umas boas migalhas, porque o baronato é bem remunerado..

O capital é global, as gerências políticas e as organizações sindicais são locais, vivem no século XIX.

As finanças mandaram às urtigas a economia, não porque os tais imperadores sejam maus – eles não são mãos nem bons – mas porque a economia dá pouca pica. Montar uma fábrica obriga a esperar muitos anos pelo lucro (que não é certo) enquanto fazer criação de notas através dos canteiros cibernéticos é sempre euromilhões em cada bit.

E este mundo, que se encaminha para um desastre de proporções nunca antes vistas, tem o aplauso das massas populares que se entregam sacrificialmente para que as massas cambiais beneficiem quem merece. E quem merece é quem manda e quem especula.

Os marxistas dos anos sessenta estavam convencidos e queriam convencer os outros de que o proletariado venceria em favor do advento da justiça e da igualdade, mas nunca foi líquido, e menos o é hoje, que uma classe possa vencer outra em definitivo, mesmo que seja auxiliada por qualquer suicídio.

O que sabemos de saber constatado é que o proletariado foi substituído pelo precariado. O fosso entre os que enricam e os que são deserdados é cada vez maior…

Que a carteira substituiu o coração e que quem não tem carteira não tem nada.

ABDUL CADRE

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