quarta-feira, 8 de maio de 2019

PIOR DO QUE ACREDITAR EM GAMBOZINOS

Pior do que acreditar em gambozinos é a gente engasgar-se com um pelo de gambozino atravessado na garganta. Na garganta, pois claro. Pior ainda é não tossir, para se ver livre do inconveniente.

De certo que alguém, no fervor da crença que lhe instalaram, ou a que se rendeu para fazer conjunto com muitos, que encomenda os dias e pede graças e favores a mãe de Deus, como se Deus, pela Sua própria natureza, não fosse órfão, seria expectável que se engasgasse, e até que tossisse, para expelir o pelo. É raro que isso aconteça, porque crente é mesmo assim, diz o que diz sem tossir, porque lhe disseram ser dogma de crença (a que a igreja chama de fé). Ele crê, embora não entenda, porque é um mistério, e os mistérios são inexplicáveis e inacessíveis à inteligência humana. Se fosse assim, para quê falar do que ninguém poderá entender, a não ser para nos espantar e deixar-nos calmos no rebanho?

Do que é que eu estou a falar? Então não se está mesmo a ver?

Falo daquilo que dá imenso gozo aos teólogos (?) que nos querem tratar como diminuídos mentais, que Deus, afinal, teve mãe, sem que se possa admitir contradição com afirmar-se que antes Dele nada nem ninguém existia; que Ele tudo produziu, excepto a quadratura do círculo, que é enigma humano em desafio a Deus.

Claro que eu sou, decididamente um desmancha prazeres, quando me falam de Mistério – eu que acredito mistérios – procuro sempre confirmação, pergunto de imediato se é mistério ou apenas mentira ou efabulação.

Penso que terá sido também isto que Nestório perguntou quando o Concílio de Éfeso (431 D.C.), para grande escândalo de muitos cristãos, que se sentiram ofendidos na sua inteligência, resolveu criar um dos dogmas mais absurdos alguma vez congeminados, o Theotókos, gerador de inúmeras dissidências. O termo (grego) significa «aquela que gerou Deus». Tudo isto resultou de uma certa ideia mitológica difundida pelos cristãos do Egipto. Pra tornar racional tal desconchavo foi necessário fazer de toda a lógica uma batata.

Vejam bem o artifício: a coisa seria assim, Deus é uno nas suas três pessoas, todas elas coevas, isto é, o Filho é coevo do Pai e nenhuma das pessoas à anterior à outra. Explodiu-me neste preciso momento um neurónio. Ora se o Filho é Deus e goza com o Pai da mesma dignidade e da mesma anterioridade sobre tudo quanto existe, tendo vindo habitar entre nós através do ventre de uma mulher, que o deu à luz, essa mulher, Maria, é mãe de Deus. Explodiu-me outro neurónio. Entenderam, ou têm os neurónios em brasa?

Fica um aviso: se é católico e diz que não acredita nisto, corre o risco de ser excomungado, o que é meio caminho andado para ter a sua alma imaterial a arder nas chamas materiais do inferno. E é muito benfeito.

Permitam-me um conselho: digam que acreditam, abanem a cabeça e digam que sim, para fazer de conta.

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