segunda-feira, 22 de junho de 2009

O MANIFESTO DO RESTELO

Barreiro, 21 de Junho de 2009


ESTE MANIFESTO é, em termos de assumpção colectiva do grande ideal da inércia, do nada fazer, o que as bocas foleiras atribuídas por Camões ao metafórico Velho do Restelo foram nessa epopeia esvaída no lamento «Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho destemperada e a voz enrouquecida».
Assinado por três dezenas de sumidades, entre as quais se encontram peritos que disseram antes o que agora desdizem e ministros despedidos, mas não convencidos, o manifesto é uma proposta de suicídio para o País e, mais do que um manifesto impudente, é um atraso de vida e um manual de instruções para o fabrico do caixão de pinho onde muitos querem inumar Portugal inteiro. Os cangalheiros olham, olham e murmuram para com os seus botões: bem, se o caixão for curto, cortam-se as pernas ao cadáver. Não será por isso que fica insepulto.
Ouvidos os clarins, de imediato se veio dependurar nas pantalhas, sem que o rubor lhe aflorasse a face, a actual líder do PSD, a debitar: «não é novidade para mim, que há muito tempo o digo, sem que me prestem atenção».
Dito de outra maneira: morte ao TGV e a quem o apoiar, isto é, morte ao progresso e viva a pacatez rural dos remediados e dos pedintes! Se não for assim, suspende-se a democracia por uns tempos e pronto. Ou prontos.
Esconde a senhora de que lhes falo um pequeníssimo pormenor: o TGV foi uma iniciativa dos governos do PSD e os protocolos com a Espanha e com Bruxelas têm a sua excelsa e inconfundível assinatura.
Dou de barato que os gritos de morte ao TGV são apenas uma forma de marcar território e porque os seus conselheiros lhe dizem que é isso que o povo quer ouvir e que, já se sabe, o que o povo quer ouvir, mesmo que seja mentira, é que é a verdade. É evidente que, se chegar a primeira-ministra – abrenúncio! – muda de discurso e lá terá que dizer que os contratos não se rasgam; haverá que obedecer a Bruxelas e aos espanhóis, já se vê. Dará o dito por não dito mais uma vez…
Mas o que eu queria trazer aqui não eram bem estes remoques, era antes o seguinte: não gosto de cangalheiros. Se Portugal não apostar forte, rápido e seriamente no TGV e no novo aeroporto divorcia-se da Europa, isola-se e cava a sua própria sepultura. Mais! Tem de apostar ainda em grandes entrepostos, transportes ferroviários que secundarizem a rodovia, na recuperação económica dos mares e da costa marítima…
E, mais do que tudo e acima de tudo, no NUCLEAR, associado ou não com a Espanha. De preferência associado.
Para o mais, o Camões que trate em verso, se ainda puder, ele que concluiu que afinal cantava a gente surda e endurecida.

Sem comentários:

Enviar um comentário