segunda-feira, 29 de junho de 2009

APETÊNCIAS CONVERGENTES

Barreiro, 29 de Junho de 2009

HÁ DIAS, no seu espaço do Correio da Manhã, perguntava-se Emídio Rangel,: «Como se separa o discurso do Presidente do discurso de Ferreira Leite?»
Como se torna cada vez mais evidente, não se separa nem se distingue, trata-se de um mesmo e único discurso, visando um claro objectivo: colocar o partido de ambos em posição de vitória eleitoral nas legislativas, o que não é bonito de se ver, já que, transformando aquele que proverbialmente se quer como o «presidente de todos os portugueses» em aliado natural e objectivo da líder do PSD, sai diminuída a posição de árbitro e de garante do bom funcionamento das instituições, acrescentando-se ruído patológico ao já de si desafinado concerto político da presente abertura da caça ao voto.
A coisa pode ser apenas do domínio do subconsciente, mas não vale a pena dizerem-me que são apenas aparências, porque não há quem não saiba que em político aquilo que parece é. A decisão do Presidente em não marcar as legislativas para a mesma data das autárquicas, como exigia a Dr.ª Ferreira Leite, pode parecer a muitos ter sido um esforço sério para não ficar tolhido pela convergência a que temos assistido, mas se foi esforço, foi insuficiente e a relutância que transpareceu nas várias intervenções públicas mereceria o remoque que noutro contexto a líder do PSD debitou na pantalha televisiva: «gato escondido com o corpo todo de fora».
E a convergência dos discursos – por mais que se queira de fortuita casualidade – denuncia-se à saciedade quando o Dr. Cavaco Silva vem criticar os investimentos públicos, sem se lembrar do que nós nos lembramos: quando foi primeiro-ministro, Portugal bateu todos os próprios recordes de investimento público – todos! – e colocou-se como o quarto país da OCDE em tal desiderato.
Mas o maior busílis vem ainda disto: nem Cavaco Silva nem Ferreira Leite podem estar sinceramente contra os investimentos públicos, seria algo contrário às suas próprias naturezas políticas e não acredito que o Dr. Cavaco Silva tivesse a coragem de subscrever as palavras de retórica e demagogia da Dr.ª Ferreira Leite quando afirma: «não existe no mundo nenhum economista credível que defenda o investimento público nestas circunstâncias». E digo isto porque temos aqui um grave problema a resolver com a Suécia: o último Nobel da Economia defende com unhas e dentes o investimento público e o homem foi galardoado – vejam bem! – à revelia do que profetiza a líder do PSD, o que não se faz, é uma desconsideração.
Bom, diga-se em abono da verdade que Alfredo Nobel, fosse lá pelo que fosse, não quis ou não se lembrou de distinguir a área da Economia; aquilo que se alcunha de Nobel da Economia nada tem a ver com a Fundação Nobel, trata-se sim do «Prémio Sveriges Riksbank de Ciências Económicas», cujo júri – e aqui fica uma proposta demagogicíssima – deveria ser substituído pelos 28 apoiantes da Dr.ª Ferreira Leite que assinaram o Manifesto do Restelo. Eu sei que temos aqui um pequeno problema: é que daqueles 28 economistas credíveis, um pelo menos não é economista, é advogado, o Dr. Medina Carreira, aquele senhor que quando vai para a televisão profetizar o nosso particular apocalipse deixa milhares de portugueses com vontade de cortar os pulsos.
ABDUL CADRE

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