sábado, 22 de maio de 2010

A CONTA DA FLORISTA


Barreiro, 26 de Abril de 2010
ESTE ANO, o 25 de Abril foi mais apagado do que nunca. Para este esfriamento muito contribuiu o desvio das brasas para a fogueira das paixões futebolísticas. O SLB-SLB ouvia-se mais alto e mais vezes do que o habitual 25 de Abril sempre, que os mais jovens nem sequer entendem.
Para além de tudo isto, parece que a razão principal para a falta de alor reside no facto de os muitos que se encheram de esperanças na epopeia dos cravos sempre a florir não contarem com a conta exorbitante que a florista está a cobrar.
Entretanto, a somar ao constante agravamento das desigualdades sociais, instalou-se no país um estado de loucura e chinfrineira nunca visto em 800 anos de História.
Chegámos a tal ponto que – pasme-se! – temos patrões a fazer greve, magistrados a fazer política, deputados a conspirar e até temos um sindicato dos juízes. Para a loucura ficar completa só nos falta o sindicato dos ministros, o sindicato dos presidentes da república e o sindicato dos nossos queridos deputados.
Eu digo queridos deputados, mas é evidente que gostaria de dizer outra coisa qualquer. O país caminha a passos largos para uma situação financeira e económica desastrosa, mas aqueles senhores não encontram outra coisa mais útil para fazer do que perderem horas e horas a fingir que querem saber aquilo que já concluíram muito antes de inquirirem. Querem lá eles saber se o Sócrates mentiu ou não mentiu, se sabia ou não sabia, o que eles querem é achincalhar o dito cujo, não percebendo que o Zé Povinho está bem mais preocupado com a preparação da equipa do Benfica para a próxima época.
Mas este comportamento irresponsável dos senhores instalados na Assembleia da República faz-me lembrar o dos seus colegas de há uns séculos que, enquanto os turcos tomavam Bizâncio, discutiam o sexo dos anjos, não a defesa da cidade.
No meio de tudo isto, sabemos que uma juíza ilibou um tipo que se abasteceu de combustível e fugiu sem pagar, exarando um acórdão em que dizia que não havia crime, pois que o combustível estava ali nas bombas para as pessoas se servirem.
Mais grave veio do Tribunal da Relação: que sim senhor o Dr. Névoa (ou engenheiro, não sei bem) quis comprar um vereador, mas que tal não é crime, não é corrupção. É capaz de ser apenas gentileza, não acham?
Mais grave ainda: condenado em primeira instância – o tal Névoa – foi multado em 5 000 euros, mas aquele que o denunciou foi condenado no dobro por ter chamado ao dito o que o dicionário aponta como qualificativo adequado. Eis que o crime (que não é crime afinal) compensa.
Face a isto, que diz a organização político-sindical dos juízes?
Nada. O senhor desembargador presidente desvia a conversa e propõe a extinção da Ordem dos Advogados.
No antigo Parque Mayer vi coisas bem mais engraçadas, embora menos loucas.


ABDUL CADRE

 


 


 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário