sábado, 22 de maio de 2010

EXCITAÇÕES, ALUCINAÇÕES E FENÓMENOS INSÓLITOS

Barreiro, 15 de Maio de 2010

JÁ NÃO É a primeira vez que neste e noutros espaços, naturalmente com palavras outras, que a tabloidização geral para a qual caminhamos nos jornais, televisões e cassetes piratas se caracteriza pelo progressivo afastamento do dever e do interesse em informar, trocados pela assumpção do deleite em excitar as massas e exercer um poder desviado, espúrio e despido das virtudes que em voz alta se esgrimem e em surdina e à sorrelfa se mandam às urtigas.

O pimbismo jornalístico chega a ser nauseabundo. Sei de um tablóide popularíssimo que anda há mais de um mês a estampar todos os dias na capa, com chamada para o miolo, duas fotografias sobrepostas (para parecerem uma só) do tripeiro Pinto da Costa e da sua putativa nova namorada brasileira – nova nos dois sentidos, note-se – ocupando o espaço a dizer nada, mas escrevendo muito.

No mesmo tablóide, um responsável e colunista manda imprimir há anos e amiúde sempre a mesma crónica, onde trata a Assembleia da República por assembleia nacional e Sócrates, por quem tem um ódio figadal, por presidente do conselho e engenheiro relativo. Sempre assim, invariavelmente assim, sem outro tema.

Como para mim é evidente, mas que parece não o ser para as grandes maiorias, o jornal não tem culpa nenhuma, fabrica o que bem se vende, é o povão que assim quer. Se não fosse assim a coisa não se vendia, não é?

Da falta de liberdade de imprensa dos tempos da outra senhora caímos agora no desbocamento mais tabernoso, mais bacoco e mais irresponsável, com moços de recados por toda a parte e salteadores da honra perdida a cada esquina.

Qualquer estagiário que se preze sabe bem que o que está a dar é malhar no Sócrates e «sus muchachos», nos gestores do inimigo e nos funcionários públicos.

Ainda recentemente, uns jovens destes turcos, frustrados talvez por não terem sido admitidos na Polícia Judiciária, confundiram entrevistar um deputado com interrogar um perigoso cadastrado a monte. A resposta do referido foi péssima e já toda a gente malhou o que tinha a malhar. Pena foi ninguém se lembrar de criticar o comportamento dos entrevistadores. Não será esta espécie de jornalismo à rédea solta sem escrutínio de qualquer natureza um convite à concretização dos desejos expressos em passado recente por Ferreira Leite, aquela profecia da suspensão da democracia?

E que dizer da apatia e da falta de crítica à reunião dos doze cavaleiros do apocalipse em Belém? Tradicionalmente eram só quatro!

Gente que foi ministro e governador do Banco de Portugal pede a bênção ao Presidente da República para salvar o país do descalabro a que chegámos pelas suas mãos excelsas. Põem-se em bicos dos pés, querendo passar por extraterrestres. Eles, os culpados do nosso afundamento. Francamente, até o Pina Moura!

Fazia aqui falta aquela frase de César: «até tu, Brutus»...

ABDUL CADRE

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