sábado, 11 de fevereiro de 2017

ILLUMINATEN E ILlUMINATI

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No seu livro, “Anjos e Demónios”, Dan Brown evoca os Illuminati, uma sociedade secreta cujas origens remontariam ao século XVI e que reuniria eruditos cujas teses científicas tinham sido repudiadas pela Igreja. Segundo Dan Brown, o astrónomo e matemático Galileu (1564-1642) tinha sido um dos membros mais destacados desta sociedade. Perseguidos pela Igreja Católica, os Illuminati tinham-se espalhado pela Europa, misturando-se com místicos, alquimistas, ocultistas, judeus ou muçulmanos, infiltraram-se na Maçonaria. Sempre segundo o autor de “Anjos e Demónios”, esta sociedade secreta trabalharia na destruição da Igreja Cristã. No seu livro, põe em cena uma conspiração orquestrada por ela.

Se bem que existiu uma organização cujo nome se parece com o citado por Dan Brown, a sua história não é essa. O grupo que lhe serviu de modelo é o dos ILLUMINATEN (que não Illuminati), e a sua existência não remonta ao século XVI, mas sim ao final do XVIII, ou seja cerca de cento e cinquenta anos depois da morte de Galileu.

Os ILUMINATEN, mais conhecidos pelo nome de Iluminados da Baviera, foram uma irmandade que foi criada em Maio de 1776 por Adam Weishaupt (1748-1813), professor de Direito na Universidade de Ingolstadt, na Baviera. Antigo aluno dos jesuítas, ficou marcado pela forma como estos lhe ensinaram religião, utilizando una espécie de “rigidez metódica” destinada a impor uma devoção de fachada e vazia. Desenvolveu daí uma grande aversão pela religião e esforçou-se em combater o obscurantismo religioso, unindo-se ao Iluminismo. Foi com este espírito que fundou os ILLUMINATEN, uma sociedade secreta que não tinha vocação iniciática, mas sim um objectivo completamente subversivo.

A doutrina Illuminaten

A doutrina dos ILLUMINATEN inspira-se em Rousseau. Prega o igualitarismo e um racionalismo hostil à religião. A luz que buscam não é a da espiritualidade ou a da iniciação, mas sim a da razão, a do Iluminismo que marca o século XVIII. Adam Weishaupt consegue apenas reunir uma dezena de membros à sua volta. Constatando o pouco êxito da sua empresa, deu aos ILLUMINATEN uma forma maçónica para seduzir novos adeptos. Em 1782, tentou inclusive criar uma instituição destinada a federar a maçonaria alemã com o fim de “curá-la da teosofia” e aproximá-la do racionalismo. A sociedade dos ILLUMINATEN estendeu-se então pela Áustria, Boémia y Hungria, e infiltrou-se definitivamente na Maçonaria.

Nos finais do século XVIII, a Maçonaria alemã estava dominada pela Estrita Observância Templária e a Rosa-Cruz, dois grupos muito vinculados ao cristianismo por um lado e à espiritualidade mística por outro. Estos dois grupos, em particular os Rosacruzes, pressentiram rapidamente o perigo que representavam os ILLUMINATEN, que pretendiam reformar a sociedade instaurando o ateísmo. Em 11 de Novembro de 1783, a loja dos Três Globos de Berlim lançou um anátema contra os ILLUMINATEN, aos quais acusava de querer minar a religião cristã e fazer da Maçonaria um sistema político.

Por sua parte, as autoridades políticas sentiram-se também ameaçadas, já que Weishaupt queria apoderar-se também da monarquia. Para pôr fim a estas manobras, em 22 de Junho de 1784, o príncipe Charles Théodore, eleitor de Baviera, emitiu um édito ordenando a dissolução de toda a sociedade secreta. Nos princípios do ano 1785, Adam Weishaupt foi molestado. Destituído primeiro da sua cátedra universitária, foi expulso de Baviera. Então os ILLUMINATEN foram reprimidos e deixaram de existir depois de 1789.

Uma lenda romanceada

Apesar da brevidade da sua existência, os Iluminados de Baviera conheceram uma formidável posteridade novelesca, que começa nos finais do século XVIII com obras contra-revolucionárias, como o Ensayo sobre a seita dos Iluminados (1789) do marquês de Luchet, ou Memórias para servir a historia do jacobismo (1797-1799) de Augustin Barruel. Estes autores vêem na Revolução uma conspiração contra a religião e a realeza, dirigida pela Maçonaria, e em particular pelos ILLUMINATEN. Esta tese, muitas vezes contraditada pelos historiadores, conhece sem dúvida os favores dos que sustentam as teses conspirativas. Esteas últimas, basados na teoria da conspiração, extraem sua eficácia devido a que esta teoria “suprime a casualidade, os processos históricos, as imperfeiçoes humanas e faz crer que tudo é desejado, que há responsáveis únicos das desditas do mundo”.

Antes, falava-se da conspiração judeu-maçónica, hoje isto se atribui a outras minorias. É sempre necessário encontrar bodes expiatórios para o mal-estar de uma época…

Como conclusão, pode dizer-se que se é bem certo que os ILLUMINATEN foram pouco recomendáveis, devido à sua propensão para conspirar contra os poderes religiosos e políticos existentes, todavia têm apenas uma distante relação com os Illuminati da novela de Dan Brown.

PS:

Este artigo, originalmente publicado na página da AMORC-Espanha (http://www.amorc.es/iluminados-e-illuminati/), é aqui vertido para português por Abdul Cadre, com a devida vénia.

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