quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

ENTRE VIVOS E MORTOS

Histon, 3 JAN 2019

Há pessoas tão vaidosas, tão autoconvencidas, tão cheias de si que nos jogam na cara a todo o momento aquela frasezinha bacoca do «eu cá penso pela minha cabeça». Ora, admitindo que as cabeças pensam – e não creio em tal – temos que presumir que o falante está equivocado, mente ou é autista, porque só autista pensa pela própria cabeça, ou lá o que seja que serve para pensar…

As pessoas que verdadeiramente pensam, que são poucas, e nem sequer é muito importante que o façam, fazem-no com o máximo de cabeças que possam, porque não são tolas.

Infelizmente – ou felizmente, vá-se lá saber – a maioria não pensa, ecoa, mas dado que não dá que assim seja, fala como se tivesse acabado de inventar a roda. É assim que os quase mortos se jugam quase vivos, enquanto os vivos encolhem os ombros e fazem ouvidos de mercador.

Faz tanta falta quem nos possa ensinar a não pensar, para que possamos, com um pouco de silêncio, ser pensados!

Mas como? Se na escola os professores perguntam aos meninos: o que é que o menino pensa? E a cabeça do menino começa a crescer, cresce tanto que o menino fica incapaz de perguntar, torna-se adulto, adultera-se, tem a cabeça cheia de dizeres prontos a debitar.

O menino morreu. Da sua boca saem mortos-vivos à procura de jazigo.

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