domingo, 27 de fevereiro de 2011

É UMA COISA GENÉTICA

Vendas Novas, 14 de Fevereiro de 2011

PAÍS curioso e único, este nosso. Eu sei, eu sei que todos os países são únicos, mas o nosso é muito mais único, só é pena não ser o melhor do mundo, como o Mourinho, por exemplo. E sermos capazes de falar como ele. Já viram aquele anúncio a um banco, em que ele diz: «eu não sou o melhor, só que não há ninguém melhor do que eu»?

Estou a citar de memória, pelo que a frase pode ser ligeiramente diferente, que não o sentido.

A nossa peculiaridade é tão grande que até temos uma coisa absolutamente única no mundo, estradas ditas SCUT – sem custo para o utilizador – em que as portagens são pagas, inclusive, por antecipação.

Um empresário tenta comprar um vereador e é absolvido; o vereador é condenado e o seu advogado, que é também seu irmão, está em risco de ir à barra, não como causídico, mas como réu.

Esta gente não aprende que as denúncias têm de ser anónimas, como no tempo da Inquisição, como no tempo da PIDE. Pois. É que a Procuradoria não deita para o lixo as cartas anónimas, manda investigar, desde que seja coisa que, levada aos tablóides, possa deliciar os gulosos que dessas iguarias se alimentam.

Sabem que há uma linha aberta para denunciarmos o nosso vizinho que comprou um carro novo melhor do que o nosso?

E também há, num diário de grande tiragem, uma petição em curso para criminalizar o enriquecimento ilícito, já assinada inclusive por juristas e outras pessoas de que se esperaria maior bom senso.

Ó, meus amigos, então se algo é ilícito, não está já criminalizado?

Eu sei que esta tontice pode ser justificada por alguns como uma forma de contornar aquela coisa da inversão do ónus da prova, mas para mim não passa do exercício corrente da demagogia mais primária. É para agradar ao poviléu, para armar aos cágados, para inglês ver.

Por falar em demagogia, e da barata, surge-nos aquela ideia bizarra do BE que, para se antecipar ao PCP, se lembra de lançar uma moção de censura a prazo, que se justificará pelo combate aos «banqueiros chupistas» e ao governo do Sócrates, mas que, bem vistas as coisas, vai beneficiar esses mesmos chupistas, que aproveitarão a presumida instabilidade consequente para acrescentar uns pós aos juros cobrados, tal como será um presente inesperado ao governo em exercício, como havemos de ver.

Mas, suponhamos que o PSD votava a moção, o governo caia e tínhamos eleições – que é do que o país mais precisa neste momento! – resultando tudo na vitória do Coelho, não o da Madeira, mas o Passos.

Teríamos então que o combate às «políticas de direita» entronizavam um partido (ou dois) ainda mais à direita para fazer maldades ao povo e beneficiar os tais banqueiros chupistas. A seguir, talvez pegasse a ideia duma revisão constitucional que diminuísse o tal mínimo de 180 deputados para 150 ou 120 e deixaríamos de ter na Assembleia representantes dos partidos que combatem os «banqueiros chupistas».

Somos ou não peculiares, únicos, incríveis?


 


Abdul Cadre

abdul.cadre@gmail.com

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