quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ENVIESAMENTOS DE BASE

Vendas Novas, 24 de Janeiro de 2011

SÓCRATES está de parabéns! O candidato que mais lhe convinha e sempre lhe conveio, aquele que é, digamos assim, o seu abono de família, ganhou folgadamente e sem espinhas o concurso dos presidenciáveis.

As hostes cavaquistas estão em festa como se tivessem acabado de assistir aos Globos de Oiro. Cavaco, nem por isso, não pelos motivos aduzidos pelo Defensor, mas porque vai ter contrariedades de que pode suspeitar, mas cuja amplitude não imagina nem quer imaginar. Tem experiência de em tempos ter sido estrugido em lume brando, enquanto primeiro-ministro, mas não sabe ainda como se frita um presidente, se com azeite de oliva, se com margarina com sabor a manteiga. Sabem que há margarina com sabor a manteiga, não sabem? Pois. E também há estradas sem custos para os utilizadores onde os utilizadores pagam e não bufam.

Cavaco levou então o globo de oiro e não lhe faltou sequer o seu Ricky Gervais, que no seu caso particular dava pelo nome de José Manuel Coelho, um dos poucos madeirenses que não tem o apelido Jardim ou Ramos. A imprensa espanhola, por causa da carreta em que se deslocava, chamou-lhe o «enterrador», mas na verdade não almejou levar a velório o proprietário da «Gaivota Azul», que é como quem diz a uma segunda volta.

Por falta de segunda volta, não está Alegre de parabéns, e eu também não, que votei nele, embora convicto de que nem um milagre levaria a tal. Alegre não quis perceber que a soma algébrica de PS com BE não dá mais, dá menos; que um número significativo de bloquistas votava no Fernando Nobre e que uma razoável percentagem de apoiantes da mãozinha fechada estava com Cavaco. Pelos meus cálculos, estes serão, na receita cavaquista, cerca de 9 ou 10%.

No entanto, devo esclarecer que fui votar mais para não fazer parte da maioria que é esse partido pegajoso e azedo que dá pelo nome de abstenção do que por outra qualquer razão. Nunca faço parte de maiorias, seja das que ganham, seja das que perdem. As maiorias só por mero acaso coincidem com a verdade, com a razão e com a justiça. As maiorias cospem para o chão; só uma minoria o não faz. A maioria dos proprietários dos cães que estrumam os passeios da cidade riem-se daquela extremamente pequena minoria que apanha os dejectos, porque a nossa cidadania é assim e já se sabe que as coisas são assim quando não podem ser assado. Cavaco ganhou porque não podia deixar de ganhar e o povo português continuará assim, porque não pode ficar de outro jeito. É a vida.

ABDUL CADRE

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