quarta-feira, 8 de março de 2017

SEXO LIBERTINO E PURITANISMO

VN 08 MAR 2017

A propósito de um jogo sexual muito praticado em Espanha, entre os jovens, ver em http://www.dn.pt/sociedade/interior/jogo-do-cais-a-brincadeira-sexual-que-esta-a-preocupar-as-autoridades-5595201.html, algumas jovens, que quero crer bem-intencionadas disseram coisas assim:

«Para mim isto é assustador... e ainda mais é quando há pessoas que nos comentários à notícia defendem que isto é a liberdade sexual dos jovens e que se deve pactuar com isto... mais uma vez não se olha para estas situações como o princípio da exploração sexual... da exploração humana...»

«É horroroso. O conceito de "liberdade" completamente deturpado... é triste que haja jovens a crescer assim... com a noção de que a "liberdade" que podem escolher é a liberdade de serem objectos sexuais..»

Estas visões acerca do «desvio» dos tais jovens são tão distorcidas, tão tipo Facebook, tão carregadas de um puritanismo saloio – chegou-se mesmo à comparação com a pedofilia – que me vi obrigado a responder assim:

Numa sociedade promíscua não se pode esperar que os jovens o não sejam. Mas não se preocupem: ser jovem é doença passageira que não precisa de cuidados médicos, basta esperar pelo reumático. E não vale a pena assustarmo-nos nem usar os chavões da moda. Por exemplo, nesse tal jogo badalhoco ninguém é objecto sexual, machos e fêmeas «brincam» livremente e em igualdade. Também não vale a pena perorar sobre liberdade, porque a liberdade não é dizer o que nós julgamos que os outros devem fazer. A liberdade é acertar e é errar. Não é ilimitada, como é óbvio, mas não pode ser limitada apenas porque sim. Mas, nestes casos de libertinagem, seria bem melhor tentarmos perceber do porquê. Por exemplo, só na cidade de Madrid há mais clubes privados de trocas de casais do que escolas e associações culturais em conjunto. O espanto (e o susto de muita gente) deriva de só se assustarem e espantarem quando as redes sociais e os media dão o lamiré. Se fossem espreitar a vida, deixavam de se assustar e de se espantar. Estas coisas, há uns anos atrás, eram quase exclusivas das classes «altas», hoje, com a globalização (digamos assim) chegou às classes populares. É apenas um fenómeno quantitativo, não é qualitativo. E descansem, o mundo não vai acabar, antes pelo contrário, vai crescer. A lógica maior é a dos interruptores, umas vezes estão para cima e outras estão para baixo. É a vida.

O mundo não enlouqueceu. Está como vem sendo há muito tempo. Não havia era NET para mutuamente nos assustarmos. Até parece que esta gente nunca leu a poesia lírica e satírica dos nossos civilizadores romanos, nem das orgias e bacanais da Antiguidade Clássica, nem das Fogueiras de Beltane, do mundo celta. Estas puritanas, que eu parto do princípio que são bem-intencionadas, protegem-se de todos os perigos nas suas sacristias e gostariam que todo o mundo fosse uma enorme sacristia.

Devemos falar de liberdade e devemos falar de educação e de formação. A liberdade não é nem pode ser uma concessão, mas de uma conquista e de um exercício, que não implica (nem poderia implicar) fazer coisas certinhas. Exercer a liberdade tem de ser acertar e errar. Quanto à educação e formação, pergunte-se aos pais, aos professores, às escolas, aos media, aos legisladores, etc. O que fazem, o que privilegiam, o que incentivam. Depois, quando se trata de sexo a conversa começa quase sempre envenenada e enviesada. Principalmente devido ao puritanismo e ao moralismo. Por fim, para afastar os sustos, devo dizer-lhes que a referida rebaldaria é tão antiga quanto a humanidade, não vinha é no jornal e, por maioria de razão, na NET. A minha adolescência foi há 60 anos e assisti a coisas dessas. E piores. Por isso, não se assustem, lembrem-se do que diz a Bíblia (no Eclesiástico): o que é já foi e o que será também já foi.

E tenham muito cuidado: tal rebaldaria nada tem de parecido com pedofilia, pois não há abuso nem coacção. Depois, não se trata de crianças, mas de adolescentes (e até de maiores). Acresce que, a partir dos 16 anos, não existem quaisquer inibições de relacionamentos sexuais consentidos, mesmo que com maiores. Podem enojar-nos certos comportamentos, mas não somos donos dos outros. Não estamos a falar de pessoas incapazes, nem de pessoas que obrigam outras a fazerem o que não querem. Estamos num campo muito sensível. Livremo-nos de moralismos e façamos uma peregrinação a Bertrand Russell e William Reich, sobre este assunto

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