sexta-feira, 5 de maio de 2017

O OITO E O OITENTA

V. Novas, 5 de Maio de 2017

Dizia Sócrates que o verdadeiro conhecimento vem de dentro. Penso que se referia à sabedoria, não ao conhecimento meramente utilitário, não ao acumular de saberes, porque estes, julgo eu, vêm de fora. E não ponho sequer de fora a ideia platónica de que aprender é recordar, porque entendo tais recordações, não como de coisas, mas do impacto das coisas.

Sabedoria e conhecimento podem comparar-se com fé e crença; fé e sabedoria vindo de dentro e conhecimento e crença vendo de fora. Aceitando-se isto, poderíamos acrescentar que o que vem de dentro é irracional – a-racional, se se quiser –, já que escapa ao domínio da razão, enquanto que o que vem de fora, por mais estúpido que seja, é racional, porque se o não fosse não era apreensível. Do que se aprende e do que se acredita é pelo jeito que dá que se acumula; elimina-se da crença e da aprendizagem aquilo que a sabedoria nos faz entender como inutilidades, como peso morto.

O saber utilitário faz-se de experiência – só sabemos verdadeiramente o que experimentamos –, e, ao tornar-se de aplicação geral, submete-se ao colectivo, passa ao domínio do colectivo. Eis assim que a transmissão destes saberes se faça melhor em grupo, onde a imitação tem um papel relevante. De tais saberes, cuida-se da qualidade em grupos restritos; da quantidade ou massificação em grupos alargados.

Entre o pequeno grupo e a multidão joga-se dos saberes a qualidade preservada ou a sua degenerescência.

Se é em grupo que melhor se aprende, deve perguntar-se da importância do seu tamanho. Parece ser indiscutível que um grupo restrito é mais funcional do que um grupo alargado; estes geram ruido e dispersão, aqueles são mais fáceis de motivar. Mas é difícil aquilatarmos do número mais conveniente de pessoas para integrar um grupo suficientemente motivado. Da minha experiência, diria que não menos do que cinco e não mãos do que 15 indivíduos. Grupos demasiado pequenos são permeáveis aos conflitos de personalidade, grupos demasiado amplos são permeáveis à dispersão.

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