sábado, 11 de agosto de 2018

PROPENSÕES

Por que motivo é tão grande a propensão para a injúria, a mentira e a calúnia, nas redes sociais?

Tenho referido bastas vezes que a razão reside na falsa valentia de uma manifesta cobardia a salvo de agressão física por parte dos ofendidos, e a convicção de que as mesmas não recorrem à polícia. É uma evidência que o agressor se julga protegido por um escudo invisível.

Bom, isto pode explicar a desarvorada acção, não explica a motivação. Ora, a motivação não advém da cibernética, é anterior, é tão antiga quanto o homem, é uma componente da personalidade, que se torna preponderante em indivíduos que cresceram sujeitos a tratamentos injustos e desumanos; indivíduos que se tornaram incapazes de gerir as suas contrariedades e frustrações; em indivíduos com complexos de culpa, incapazes de se perdoarem e, por maioria de razão, perdoarem os outros.

Não se trata de bons e maus, mas de comportamentos que nos agradam e comportamentos que nos desagradam, o anjo e o demónio que a todos habita: desenvolveremos mais aquele que melhor cultivarmos.

Muitas vezes não se quer entender assim, fruto da nossa cultura judaico-cristã, que para além da hipocrisia, sua mais relevante característica, nos gravou a fogo no modo de ser o princípio do bode expiatório e o consequente entendimento de que o mal são os outros.

Uma revisitação à Experiência de Milgram pode ajudar-nos a perceber quão inadequada é a nossa visão daquilo que humana e socialmente somos.

Os meus amigos já alguma vez se perguntara, da natureza do conceito de devermos tratar os outros da forma que gostaríamos de ser tratados?

Hoje em dia pouco referimos isto, não é? É algo que nos parece adquirido, algo de civilizacional, mas, reflectindo bem, talvez não seja assim tão líquido, poderá até estar em regressão, a avaliar pelas redes sociais…

Sabem? É que o conceito nasceu em um tempo em que todos maltratavam todos, e agora nem por isso, por enquanto.

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