sexta-feira, 10 de agosto de 2018

PSICOFILOSOFIA DO CHICO ESPERTO

Descobrir a pólvora é o objecto máximo de qualquer chico esperto, porque outro objectivo não pode ter.

Quando me falam do Aborto Ortográfico penso sempre em provincianismo, vaidosos em bicos dos pés, chapéu de coco no enterro do bacalhau… penso coisas ainda piores, mas não digo.

Dos arautos da coisa, lembro-me sempre de argumentarem que ninguém é dono da língua portuguesa. Ou seja, entende-se que seja res nullius, coisa sem importância e, como tal, susceptível de ser apropriada por qualquer que tenha jeito e força para usucapir. Foi isso que foi feito de forma indecente e perversa por meia-dúzia de iluminados, donos assim, por usucapião daquilo que pertence afinal e apenas aos seus usuários, que não foram ouvidos para o efeito. Borrifaram-se nas Academias e nas Universidades, marimbaram-se para os escritores, olharam para os seus umbigos e disseram: tão lindos! Gente que devia ter sido internada naquele jeitoso hospital da Avenida do Brasil

Gente equivocada, não apenas por ser louca, mas por usar chapéu de coco. As línguas são pertença dos seus criadores e cada povo usá-las-á como lhes aprouver. Por isso, adoptarão os brasileiros a ortografia que lhes der jeito e os angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos, timorenses também. Cada um com a sua e nós com a nossa.

Foi isto que pensaram os falantes de inglês, francês, espanhol e alemão. Vejam bem, até os alemães. Mas claro, aquilo é gente estúpida, que inteligentes foram os iluminados do Brasil e dos esconsos do Portugal dos Pequeninos.

Não dá muito trabalho verificar as variantes ortográficas das principais línguas europeias, basta, tendo o Word, procurar os dicionários correctores. A propósito: sabem, com certeza, que corretor (do provençal corretier, que quer dizer intermediário) e corrector (do latim corrector, que quer dizer censor, aquele que corrige) são coisas bem diferentes, não sabem? Pois, os iluminados não sabem. Como não sabem que óptico e ótico são coisas também diferentes. Mas adiante.

Em inglês, temos 17 variantes ortográficas (ou 18, se considerarmos o quase inglês de Hong Kong); em espanhol (diga-se castelhano), temos 23, com a curiosidade de que na própria Espanha há duas variantes: a geral e a ordenação tradicional; em francês temos 15 e em Alemão temos 4.

O Aborto ortográfico é uma desnecessidade, mas não deixa também de ser um cancro. E é ilegal, porque não existe em termos de acordo internacional. A Assembleia da República não tinha poder para impor um acordo que não existia. Poucos deputados se opuseram. Penso que todos os outros usam chapéu de coco e nunca faltam ao enterro do bacalhau.

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