quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A PROPÓSITO DO PARAISO

Sempre perspicazes e muito pertinentes, os textos do nosso confrade José Flórido são – é a mais evidente das qualidades – um apelo à inteligência, o que contraria a lógica facebookista, que anda mais pela superficialidade (no seu aspecto menos doentio) e pelo confronto e pelas fake (na sua tendência).

Falava o nosso amigo no entendimento do dever ser do Paraíso, em Agostinho da Silva e quanto é difícil de entender isto nos dias que correm. Mais difícil ainda se olharmos o que se passa no Brasil, de que o nosso Mahatma foi também nacional. O ódio que ali grassa, sobretudo em grupos populacionais que se reivindicam do cristianismo, faz-nos perder toda a perspectiva de que ali sejam possíveis o bom-senso e a coesão social. O Brasil, que tem as condições naturais para ser o paraíso possível a que a exacerbação dos ódios se opõe!

Entendamos o Paraíso como a Jerusalém Terrestre e suponhamos que fica em Freixo de Espada à Cinta. É ali que podemos fundar a liberdade e o destino como uma coisa só. Pois bem, queremos lá chegar partindo da Cova da Moura. Podemos ir ao pé coxinho, em marcha, devagarinho, em maratona e até de marcha atrás, de preferência pelo trajecto mais curto. Dispensemos, por agora, os artifícios de meios mecânicos de locomoção…

Os bem-avisados munem-se de farnel, roupas adequadas, sapatos confortáveis e metem-se ao caminho. Alguns, os mais entusiastas, entoam cânticos e tocam bandolins. Vão caminhando debaixo de impropérios, alguns desistem e são a maioria.

Os que se julgam mais avisados que os mais, têm para si que o segredo é a alma do negócio e murmuram para com os seus botões: se queres chegar depressa vai sozinho, que acompanhado nunca mais lá chegas.

Mas vêm logo os que adoram o mando e a chibata e dizem aos que caminham: vá, todos de rastos, que é preciso sofrer para alcançar o Paraíso. Se algum levanta a cabeça de imediato o chicote lhe fere o lombo.

Há ainda os disparatados, os alucinados e os vendedores de incensos espiritualíssimos, cristais mágicos e milagres fáceis. Dizem que o caminho mais curto entre dois pontos é a linha curva e convencem os que vivem de se convencerem a irem pelo Sul, darem a volta ao Globo e conquistarem o Paraiso.

Estive a semana passada em Freixo de Espada à Cinta e, enquanto ali permaneci, não vi ninguém chegar. Perguntei aos locais se alguém de fora ali chegara e disseram-me que só as andorinhas, no início da Primavera.

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