quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O DESENGOLIR DO MORTO-VIVO

Um certo morto-vivo, que demasiados portugueses ainda conhecem, a conselho do seu médico legista, perdão, de família, com a intenção de combater o seu Alzheimer, publicou mais um inútil desmemorial da tumba.

No volume anterior, como sabem, com os seus dentes de verdete mordia no seu sucessor como quem, meio engasgado, trinca bolo-rei; neste, expele veneno como se já não tivesse dentes.

De língua bifurcada, e como se estivesse possuído pelo espírito linguarudo da inefável Vera Lagoa, chama memórias à desmemória feita de fofocas, provando à saciedade que mais não pode, mesmo que quisesse. É o seu modo selectivo e perverso de descarregar, sobre inimigos de estimação, as suas frustrações acumuladas, que são muitas, exprimir o seu despeito, que é enorme e o seu espírito mesquinho, que é gigantesco.

Sem perda de tempo, a televisão balsâmica, sempre prestável para com os seus, mesmo que fora de prazo, mesmo que mumificados, levou à pantalha duas branqueadoras. Que aquilo era muito saxónico, o morto-vivo até tinha estudado na Britânia, que nós é que não estávamos habituados, que aquilo faz muita falta e é perfeitamente legítimo. Tadinhas, tão ingénuas, até faz aflição. Claro que é legítimo, se o não fosse a Procuradoria já estava a mandar o assunto para o Correio da Manha. Também é legítimo cuspir na sopa, mas causa asco, não causa? Que faz falta!? É possível. O estrume também faz falta no canteiro das flores, mas não na prateleira dos livros.

Juízos de carácter e revelação de conversas privadas (susceptíveis até de ser desmentidas) não são coisas saxónicas, são coisas apenas deselegantes e venenosas, que denunciam à saciedade a total ausência de sentido de estado, o que já não causa espanto a ninguém.

O homem ainda não percebeu que o povo português o despreza profundamente. E porquê? Porque muito portuguesmente (e não saxonicamente) lhe detesta o carácter. Esteve casado com ele e nem acredita que o esteve.

A propósito, Sr. Ressabiado, ainda se lembra (ou o Alzheimer não permite) do que fez ao Saramago, do que fez ao Salgueiro Maia?

E outra coisa: ainda tem aquele grupinho de amigos que a gente sabe?

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