terça-feira, 16 de agosto de 2016

PENAS E FALSAS PENAS

Vendas Novas, 16 AGO 2016

Vivi em dois territórios muito distantes daqui (e muito distantes entre si) onde a maioria da população era muçulmana. Em nenhum deles as mulheres usavam véu e em nenhum deles levavam chibatadas. A poligamia era a regra, o divórcio fácil, o adultério não era sujeito a mais castigo do que o repúdio. Por isso, quando oiço as lendas da NET sobre o horror muçulmano fico com muita pena por haver tanta ignorância à solta a botar discurso, eu que vivi no tempo em que as mulheres portuguesas só passavam a fronteira com autorização dos maridos e que se um pobre casasse com uma rica era como sair-lhe a sorte grande, pois a lei dizia que ele era o administrador dos bens do casal; podia até dizer «olha, dos teus bens, só te dou tanto por mês, para os teus alfinetes». Há dias, um tal Sérgio remeteu-me pelo Facebook uma foto que aludia a 200 chibatadas a uma mulher, na Arábia Saudita, que havia sido violada por um grupo de energúmenos. Não sei porquê, o Sérgio esqueceu-se de dizer que a "pena" não chegou a ser aplicada, devido aos protestos internacionais que gerou. Este jovem também se esqueceu de dizer que isto se passou há vários anos, quando era presidente dos EEUU o Bush Jr. Por que será que o moço se esqueceu? Porque é preciso que haja medo. Que tenhamos todos muito medo. Medo do outro, do feio, daquele que não tem direito à humanidade. Mas forneceu-nos um remédio para curar a sua indignação, que até seria louvável, se não rematasse a coisa com imensos disparates, desde citações bíblicas até concluir que os muçulmanos deviam ser todos mortos. Não sei se no seu decreto incluía a mulher condenada às tais chibatadas, pois, ao que parece, também ela é muçulmana. Ou a morte era só para os homens? Ódio, racismo, xenofobia dá nisto.

ABDUL CADRE

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