Quer a engenharia genética, quer o nuclear de guerra erguem bandeiras em nome do bem. A primeira quer aperfeiçoar o homem, superando a natureza; o segundo quer exterminar os feios, porcos e maus, segundo os critérios restritos da violência total e poder do mando, da escolha e da segregação.
O que é comum a estas duas negações da inteligência é a grande perversão do lema não declarado: purificar é preciso, viver não é preciso.
Espreitando a História, pode dizer-se: Homero não serve, por ser cego, Jesus também não, por ser vesgo, Dostoievski muito menos, por epilepsia.
Pensar a ciência colocando uma esperança salvífica no laboratório da genética, na lógica do milagre que esperámos malogradamente da religião, talvez não seja um caminho de perfeição para o homem, porque daí talvez não seja homem aquilo que resulte; chamar de impuro o que é diferente, o que nos incomoda, o que tememos, o que odiamos e em vez de integrar e entender querer segregar, querer exterminar, não torna a humanidade melhor, empobrece-a, não nos dá segurança, porque a insegurança nasce do medo e o medo justifica-se por si mesmo, faz parte da nossa condição, é um limite à nossa própria inteligência.
Se o medo é muito, a inteligência não é nenhuma.
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